domingo, 28 de maio de 2023

zambra

 ai de mim, gitano caminhante

que sem paciência, a aguardar

cada vez mais perto do horizonte

vejo de longe teu caminhar


teu passo tão retumbante

me despedaça com teu dançar

ai de mim, teu amante

sem caminho é meu caminhar




domingo, 8 de novembro de 2020

português

já sinto falta de você. decidi passar calor e não abrir a janela do meu quarto; quero não dividir seu cheiro com o mundo e deixar ir o que me restou de você. as frases que saem da minha boca não são as mesmas sem os pontos finais dos seus beijos, nem mesmos os textos que li como braile pelo teu corpo com meus dedos. te quero ler de novo, por inteiro: te li tão rápido, mas sei agora de cor cada sentença, cada palavra, cada letra, cada ponto. volta, um dia, mesmo que demore alguns capítulos; te espero com um copo de café, um cigarro e minha poesia enferrujada. 

quinta-feira, 9 de abril de 2020

voyeur/adeus

é, andarilho, teu caminhar nunca cessa. fico feliz que, mesmo com teus pés cansados, não tenha perdido teu rumo. um tropeço, uma pedra, um obstáculo ou outro não são nada pra ti: és forte, a vida te endureceu, mas não perdera a ternura... 
te vejo de longe, de soslaio, num canto desses da minha mente. me assusto, me desconcerto. uma vez ou outra, te busco, te leio, te vejo. mas te observo calado, um voyeur desprovido de pretensão, de desejo, observo por observar. é como me faço grato. depois de tanto tempo, é assustador ver que talvez eu seja mais parecido contigo que gostaria, mas é o preço que se paga, meu karma. mas se o karma pode ser camaleão, por que eu não?

a uma semana, me lembrei de você. meus números se tornaram aqueles que te dão sorte. mas também viraram o meu; na soma, um nove. o fim de ciclo. talvez seja a hora de finalmente te deixar partir. de não mais te observar. de te guardar na memória, fechar a caixa que tem seu nome, te agradecer pela última vez. sete anos desfazem tudo, dizia minha vó. e nesse desfeito, é o nosso desfecho. hora de partir. obrigado.
adeus.

quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

drew barrymore

why is it so hard to accept that the party is over?

é quando algo se disfaz que se vê de verdade. se vê que o fim teve sentido - ao menos para uma das partes; o estilhaço ou o martelo - e ficou só a culpa, a saudade, ou a raiva, a dor. um relógio de areia quebrado, desaguado em um mar de areia. esse foi nosso tempo. contado desde o princípio, estilhaçado numa brincadeira, numa ação boba e sem sentido, que jurávamos que seria nosso mapa por uma imensidão. hoje, caminhei sem perceber por nosso antigo caminho e, por acaso, me vi refletido nas lascas que deixamos. numa cor de felicidade e céus claros, cor de ódio e escuro do céu de chuva, me vejo. me assusto. no rosto, vi só a areia, a marca da tempestade, lembrança do que fez a gente parar, cerrar os olhos, se proteger... e se perder. e nos deixarmos pra trás. mas a mente engana os olhos, e os olhos enganam a mente. olho novamente. os fragmentos sequer te mostraram uma única vez. eu estive sozinho todo esse tempo. e a tempestade sempre foi presente. talvez, agora, sei que você tenha sido só uma miragem, uma loucura vã, um ímpeto de me safar da loucura; ou apenas fui deixado só, sem conseguir enxergar, num mar de areia que você dizia conhecer com a palma da mão. 

hoje, eu deixo o vento te levar. chove o meu perdão no deserto. e nem mais sei por onde passamos, e muito menos por onde passaremos. 

domingo, 22 de outubro de 2017

egito

nas mãos, areia
que caem, o tempo
do medo, futuro
infindável, é incerto
viajante, tempestade
eterno, de areia
sem rumo, que sempre vem

terça-feira, 27 de setembro de 2016

Ìyá

Moyuba Echu mingua y los ibeyis
Moyuba Oshun Shango and Yemaya

We hear laughter and we think of you
We walk on rhythm and we think of you
Feeling our union and we think of you
Receive your spirit and we think of you

Moyuba Echu mingua y los ibeyis
Moyuba Oshun Shango and Yemaya

Let's remember with rhythm our loved ones that are gone
All the joy when we're singing that no spell can destroy

We hear laughter and we think of you
We walk on rhythm and we think of you
Feeling our union and we think of you
Receive your spirit and we think of you

Moyuba Echu mingua y los ibeyis
Moyuba Oshun Shango and Yemaya

If we sing they may come guiding all of our steps
You're living through us ìyá we're singing for you

We hear laughter and we think of you
We walk on rhythm and we think of you
Feeling our union and we think of you
Receive your spirit and we think of you



quarta-feira, 6 de julho de 2016

floresce você num outro mar de cor
e segue o ciclo da vida sem dó
enquanto abre novamente teu desabrochar
tudo que minhas pétalas são é o murchar
e findo só 

não canso de te enviar flores. o acaso é o caso de que elas nunca vão chegar. invento e oro ao vento que um dia qualquer eu cruze o teu caminho, só pra sentir de longe o teu cheiro, pra ver teu olhar de bobo e só seguir. até lá, peço que aceite as flores. mesmo que elas não te cheguem. passar bem, com teu bem.